terça-feira, 24 de março de 2009


“Náusea. Vontade de Nada”

Sinto cansaço apenas. De acordar todos os dias, de me levantar, vestir, banhar, comer, mastigar, engolir. Respirar! Manter as pálpebras abertas. Sempre a mesma coisa, a mesma ordem.
Todos nós já nos sentimos assim, pensamos que a solução única e definitiva para tudo o que nos atormenta é a morte. “Existir por não morrer”. Cansaço de viver o que não se escolhe viver, de sentir o que não se quer sentir. Cansaço de sorrir quando não queremos sorrir, de fraquejar quando se tem que ser forte. Cansaço de chorar quando tudo pede para sorrir. Viver uma frequente fachada. Fingir que tudo está bem quando há um grito que pretende se libertar do fundo das entranhas, um rasgo de solidão e tédio e tormenta que nos persegue na soma dos dias. E então? Que estrada prosseguir? Desistir?
Muitas vezes não conseguimos abrir os olhos, afastar a neblina que nos quer cegar e tornar a nossa existência um tédio infindável, uma solidão desmesurada. Mas sempre consegui renascer das cinzas que desmoronaram e queimaram o meu ser por dentro e juntar esforços e voltar à batalha. Com um olhar que deslumbra, um sorriso que desponta, uma brisa que refresca. Um amor à vida que não acaba com a nauseabunda solidão que, muitas vezes, vem-me perseguir. Essa vontade de nada é invertida e transformada na vontade de prosseguir, renascer das cinzas e voar…



Mónica Abreu 12º C

quarta-feira, 11 de março de 2009

História da Gata Borralheira, de Sophia de Mello Breyner Andresen



“História da Gata Borralheira”, de Sophia de Mello Breyner Andresen (nova versão).

A GATA BORRALHEIRA

(...) Lúcia diz: “Esse sapato é meu!”
De súbito, houve um grande silêncio na sala. Só se ouvia o lago estremecendo com o reflexo da lua e o chilrear dos pássaros.
Passados uns segundos ouviu-se:
- Como é que alguém consegue trazer um sapato daqueles para este baile?
- Realmente, que falta de estilo e elegância!
Mas, de repente, apareceu um rapaz que contrariou todas as palavras ditas anteriormente. O rapaz tinha cerca de vinte anos e tinha os cabelos castanhos, olhos azuis e era alto e bonito. Disse:
- Como, pergunto eu!!! Como é que podem ser tão insensíveis, perante uma situação destas? Eu queria ver se fosse com algum de vós que comentou; vocês calavam-se e fingiam que o sapato não tinha nada a ver convosco. Em vez de a criticarem deviam admira-la pela sinceridade e pela coragem de admitir que é o seu sapato!
Todos ficaram espantados, pois ninguém o conhecia.
Lúcia dirigiu-se para meio da sala, calçou-se e agradeceu ao homem as palavras de defesa.
Passaram-se quarenta anos. Lúcia tinha naquele momento cinquenta e quatro anos e sentia-se no auge da idade. Ainda não tinha encontrado o homem da sua vida e ocupava os seus dias com trabalho. Até que foi convidada para um baile, que iria realizar na primeira noite de Junho. Ela lembrou-se do antigo baile e ia rejeitar o convite, mas como era muito curiosa queria saber a reacção das pessoas ao reencontrarem-na, aceitou.
Foi ao baile sozinha. Com o mesmo modelo de vestido de há quarenta anos e, como o seu pé não tinha crescido, com os mesmos sapatos.
Quando lá chegou, as pessoas olharam para ela e reconheceram-na; embora naquele momento, com um aspecto mais abatido pela idade. Também nessa festa se encontrava o homem que a tinha defendido, neste momento com sessenta e sete anos; mas neste baile com um objectivo bem diferente.
No meio da noite, a música parou. As pessoas afastaram-se da pista de dança, e o homem deslocou-se para o centro da sala. Chamou Lúcia e disse:
- Lúcia, apaixonei-me por ti há quarenta anos e essa paixão está mais forte do que nunca. Eu sei que não me conheces, mas podíamos ficar juntos esta noite para nos podermos aproximar e conhecer melhor.
Lúcia anuiu e apaixonou-se durante a noite.
No fim do baile, o homem pediu-a em casamento e ela, toda contente, aceitou sem pensar duas vezes. As pessoas que assistiram pudera, comprovar que o amor não escolhe idades e pode durar para sempre!


Bibliografia:

http: // paginasescrita iii. Blogs. Sapo.pt /12 170. html

Catarina Faria, 8ºD

Cinderela, a Gata Borralheira


Cinderela, a Gata Borralheira




Havia quatro irmãs que viviam numa pequena casa. As três mais velhas usavam vestidos de seda e tinham rendas em todas as saias. A mais moça, entretanto, andava esfarrapada e fazia todo o serviço da casa. Era, por isso, chamada Cinderela, a Gata Borralheira.
A mais velha era alta e magra, tinha nariz comprido e queixo pontudo. A segunda era baixa e gorda, tinha nariz chato e era vesga. A terceira era coxa e curvada para a frente. Além disso, era linguaruda. Cinderela, com todos os remendos, era bonita e delicada. Tinha cabelos dourados e olhos azuis. A pele era macia e as faces estavam sempre coradas.
Certo dia, um arauto do rei apareceu na cidade, empunhando uma trombeta e anunciando:
“- Atenção, atenção! Daqui a quinze dias, Sua Alteza Real, o Príncipe, completará vinte e um anos. Sua majestade, o Rei, dará um grande baile para o qual estão convidadas todas as moças da cidade.”
A notícia pôs a cidade em alvoroço. As modistas não tiveram mais descanso. Não ficou uma só peça de fita ou de renda na cidade. Só os tecidos de algodão sobraram nas lojas. Tafetás, cetins, brocados e galões dourados foram vendidos no primeiro dia. Costureiras e alfaiates costuravam até as agulhas furarem os dedais. Os sapateiros nem podiam mais dormir. Os cabeleireiros cortavam, frisavam e penteavam noite e dia.
- Usarei um vestido solferino, disse a irmã mais velha.
- Eu irei de verde, informou a segunda.
- Meu vestido será amarelo, continuou a terceira.
- Irmãs, suplicou Cinderela, vocês têm tantos vestidos! Se me emprestassem um, eu poderia ir ao baile.
- Você ir ao baile? Onde já se viu uma coisa dessas? Disse a mais velha.
- Uma Gata Borralheira no palácio? Era só o que faltava! Caçoou a segunda.
- Além de tudo, você é muito criança, concluiu a terceira.
Na noite do baile, as três irmãs apresentaram-se ao palácio com vestidos caros, leques de gaze e plumas na cabeça. Depois que elas saíram, Cinderela sentou-se à beira do fogão, com o seu vestido remendado. As lágrimas corriam-lhe pelas faces. De repente ouviu um ruído semelhante a um bater de asas e uma sombra escura passou a seu lado. Olhou, assustada. À sua frente apareceu uma mulher de preto, segurando uma varinha. Usava uma capa larga e um chapéu alto, como os palhaços.
- Por que está chorando? Perguntou a mulher.
- Quem e a senhora? Indagou a menina.
- Espere e logo saberá, respondeu a mulher.
Por baixo da aba do chapéu, seus olhos brilhavam como estrelas.
- Diga-me, porque está chorando? Insistiu ela.
- Minhas irmãs foram ao baile do Rei e eu fiquei aqui sozinha. Só tenho este vestido, velho e remendado.
E, pondo as mãos no rosto, começou a soluçar.
- Se continuar aí sentada, chorando, não poderá mesmo ir ao baile. Levante-se, e faça tudo o que eu mandar.
- Há ratos nas ratoeiras? Perguntou a senhora.
Cinderela, muito admirada com a pergunta, respondeu:
- Há três no celeiro, três no sótão e dois candongas na despensa.
- Apanhe as ratoeiras e leve-as para o jardim. Traga-me também a abóbora maior que encontrar na horta.
Cinderela fez exactamente o que ela mandou. Repentinamente, a senhora tocou nas ratoeiras e na abóbora com a varinha mágica e eis que elas se transformaram. Os ratos viraram seis soberbos cavalos pretos. As candongas viraram dois cocheiros elegantemente vestidos e a abóbora transformou-se numa linda carruagem dourada. Depois, tocou o vestido de Cinderela com a varinha, e imediatamente desapareceu aquele pobre vestidinho remendado, sendo substituído por um riquíssimo vestido de baile. Em seus pés apareceram lindos sapatinhos de cristais.
- Cinderela, disse a senhora. Vá e divirta-se, mas, preste atenção: quando o relógio der meia-noite, volte para casa sem demora. Se não o fizer, os cavalos voltarão a ser ratos, os cocheiros, candongas, e a carruagem será novamente uma abóbora. Quanto ao seu lindo vestido, minha querida, voltará a ter remendos. Preste atenção ao relógio. Não se esqueça!!!
- Não me esquecerei, prometeu Cinderela, mas, quem é a senhora?
- Sou sua fada madrinha. Lembre-se bem de tudo o que lhe disse.
- Lembrar-me-ei, prometeu a mocinha.
Antes que Cinderela pudesse lhe agradecer, a senhora desapareceu, como por encanto. Quando a carruagem chegou ao palácio, os criados ficaram tão admirados, que os botões saltaram de seus coletes apertados. Com os olhos arregalados, acompanhavam a linda moça, que saltou da carruagem.
Quando ela entrou no salão, o príncipe, que dançava com uma duquesa, foi imediatamente ao seu encontro e não dançou com mais ninguém. A música era tão agradável e o príncipe tão encantador que, quando o relógio deu a primeira badalada da meia-noite, Cinderela não se apercebeu disso. Ao bater a segunda, porém, ela teve a impressão de ver a fada num canto do salão. Lembrando-se então, de tudo, deu um grito abafado e saiu correndo. O príncipe, com grande espanto, viu-se sozinho no meio do salão. Procurou em vão pela linda princesa com quem havia dançado.
Cinderela fugiu pelos corredores do palácio e precipitou correndo pelas escadarias que levavam aos jardins, justamente quando o relógio dava a última pancada da meia-noite. O príncipe veio correndo atrás dela, mas não conseguiu alcançá-la. No fim das escadarias, encontrou apenas uma pobre moça, chorando na escuridão. Seis ratos pretos iam correndo à procura de queijo e dois candongas os seguiam. Uma abóbora grande rolava pela rampa das carruagens.
O príncipe olhou bem para todos os lados, mas não conseguiu ver a princesa. Muito triste, começou a subir os degraus. De repente, seus olhos avistaram alguma coisa que brilhava como uma jóia. Ajoelhou-se e apanhou um sapatinho de cristal, tão pequeno que cabia na palma da sua mão. Guardou-o no bolso, com muito carinho, na esperança de, por meio dele, encontrar a princesa. O rapaz ficou tão desolado que não podia dormir nem comer. O Rei enviou mensageiros para todos os lados do reino, à procura de uma moça, cujo pé fosse tão pequenino que coubesse naquele sapatinho.
No dia seguinte, Cinderela, novamente maltrapilha, pôs-se a fazer seu serviço. Seu pensamento, entretanto estava no príncipe. Suas irmãs estavam mais azedas do que nunca, e não falavam noutra coisa, senão na estranha princesa que estava no baile.
- Onde já se viu coisa igual? O príncipe não dançou connosco. O tempo todo só deu atenção àquela estranha princesa. Dizem que ela e filha o imperador das Índias, disse uma das moças.
- Seu vestido era tecido com fio de diamante, informou a segunda.
- Filha do imperador das índias? Perguntou Cinderela, curiosa.
- Trate de esfregar o chão. Que tem a ver você com a vida do príncipe? Vociferou a mais velha.
Durante muitos dias, os emissários do Rei viajaram pelo país. Visitaram cidades grandes e pequenas, aldeias e povoados. Em todas elas as moças se alvoraçaram, ansiosas por casar com o príncipe.
Finalmente, os emissários chegaram ao pequeno quarteirão onde Cinderela vivia com as irmãs. Suas trombetas douradas brilhavam ao sol, anunciando: “Aquela que calçar o sapatinho, será a esposa do príncipe”. Moças de todos os tipos apresentavam-se. Porém o sapatinho não servia a nenhuma. Afinal, chegaram à casa da Cinderela.
A irmã mais velha foi a primeira a aparecer, mas apenas o seu dedo grande coube no sapato. A segunda experimentou, mas o calcanhar ficou do lado de fora. Veio a terceira, mas só a metade do pé entrou.
- Deixem-me experimentar, pediu Cinderela.
- Você uma princesa! Zombaram as irmãs. Rainha do borralho!!! Isso sim, caçoaram elas. Enquanto elas riam, o chefe dos mensageiros ajoelhou-se à frente de Cinderela e calcou-lhe o sapatinho que coube perfeitamente no seu pé.
- A senhora será a esposa do príncipe. Venha connosco, Sua Alteza.
Cinderela acompanhou-os ao palácio. Havia uma multidão na calçada para vê-la. Os homens estavam apenas curiosos, mas as moças choravam de inveja.
O Príncipe, quando a viu, não reparou nos remendos de seu vestido, nem nas manchas de cinza que trazia nas faces. Viu apenas aquele rosto tão querido que ele ansiava tanto rever. Por ordem do Rei, foi anunciado que o casamento se realizaria no dia seguinte. A festa durou dez dias e dez noites. As irmãs de Cinderela dançaram só com os empregados da estrebaria. Cinderela e o príncipe formaram o casal mais feliz do mundo. E o reino povoou-se de amor e alegria pela felicidade dos dois.

Adaptação de Katharine Gibson




Raquel Mónica Jardim, 8º E

Bicho da Palha












BICHO DE PALHA




BICHO DE PALHA era o apelido dado a Maria pelos criados com quem ela trabalhava no palácio de um príncipe elegante e muito bonito. Ninguém sabia quem ela era realmente e de onde viera e por que saíra de sua casa. Chamavam-na assim, porque ela vivia coberta por uma capa de palha trançada, que lhe deixava à mostra somente os olhos. No palácio real, ela limpava os aposentos e os banheiros dos criados. A jovem vivia calada, pouco conversava com as pessoas com quem convivia. Mas amava, à distância, o príncipe. E, como era trabalhadeira e não se importava com a vida alheia, deixavam-na ficar assim, anónima.
Mas o que ninguém sabia era que Maria, este era o seu verdadeiro nome de Bicho de Palha, era filha de um rico comerciante que se casara novamente com uma viúva que também tinha uma filha da mesma idade da enteada. E, para fugir dos maus-tratos da madrasta, a jovem enteada resolveu fugir de casa. Antes, porém, seguindo o conselho de uma velhinha de feições muito bondosas e serenas, com quem se encontrava sempre que ia lavar roupas no rio, ela fez uma capa de palha trançada, cobriu-se com ela, apanhou umas poucas roupas, fez uma trouxa com essas, pegou a varinha de condão que a bondosa senhora lhe deu, para ser usada em caso de muita necessidade, e foi-se para o outro lado da cidade, onde estava o palácio do príncipe. Como lá precisavam de alguém para limpar os aposentos e banheiros dos criados, foi logo empregada. Lá, como já se informou, ganhou o apelido de “ Bicho de Palha”.
Um dia, o príncipe, que já estava em idade de casar-se, resolveu, de comum acordo com a rainha sua mãe, dar, durante três noites seguidas, um grande baile. Na última noite, escolheria, entre as jovens presentes, sua futura esposa. Assim sendo, todas as jovens do reino, sem distinção de classe social, foram convidadas.
A notícia agitou todos os moradores das redondezas, principalmente as jovens casadoiras.
Não foi diferente com as que trabalhavam no palácio do príncipe. Apenas Bicho de Palha mantinha-se quieta e indiferente no seu canto.
O dia do grande baile chegou, com muita movimentação e expectativa por parte de todos. As outras criadas, bem antes do pôr-do-sol, já se haviam retirado para seus aposentos para se preparar para a festa. Somente Bicho de Palha ficou disponível para servir ao príncipe. Ele lhe pediu que lhe trouxesse uma bacia com água, a fim de banhar-se e vestir-se para o baile.
Mal o jovem saiu, Bicho de Palha pegou a varinha de condão que a bondosa velhinha lhe dera, quando saiu da casa do pai, e, comandando-a como a senhora lhe instruíra, pediu-lhe que lhe desse um vestido cor do campo com todas as suas flores. Bem vestida e calçada, foi ao baile em uma vistosa carruagem. Sabia que o encantamento terminaria à meia-noite em ponto. Portanto, não poderia atrasar-se para retornar aos seus aposentos.
O príncipe, mal a viu, apaixonou-se, pois não havia moça mais bonita e mais bem vestida que ela. Quando ele lhe perguntou onde morava, ela lhe respondeu: “Moro na Rua das Bacias”.
E assim foram as outras duas noites restantes: na segunda, ao preparar-se para a festa, o príncipe pediu a Bicho de Palha que lhe levasse uma toalha, e, na terceira e última noite, um pente. E ela compareceu aos bailes, cada noite com um vestido diferente. E a cada uma dessas, o príncipe lhe perguntava novamente onde morava. E ela lhe respondia: “Moro na Rua das Toalhas” (segunda noite do baile) e “Moro na Rua dos Pentes” (terceira noite).
Na terceira e última noite, atrasou-se alguns segundos para sair da festa, e, na pressa, perdeu um dos sapatinhos de cristal. Um dos criados do príncipe o achou e o levou à Sua Alteza, que imediatamente ordenou que procurassem a misteriosa dona do sapatinho por todo a reino e região.
Finalmente, Bicho de Palha foi encontrada exactamente no palácio do príncipe. Sua identidade foi revelada, e ela se casou com o seu amado. E a varinha de condão, cumprida sua missão, voou para o Céu, para a bondosa velhinha de feições meiga, que era Nossa Senhora, a madrinha e protectora de Maria.






Tatiana Filipa Nascimento Gomes, 8ºE