BICHO DE PALHA era o apelido dado a Maria pelos criados com quem ela trabalhava no palácio de um príncipe elegante e muito bonito. Ninguém sabia quem ela era realmente e de onde viera e por que saíra de sua casa. Chamavam-na assim, porque ela vivia coberta por uma capa de palha trançada, que lhe deixava à mostra somente os olhos. No palácio real, ela limpava os aposentos e os banheiros dos criados. A jovem vivia calada, pouco conversava com as pessoas com quem convivia. Mas amava, à distância, o príncipe. E, como era trabalhadeira e não se importava com a vida alheia, deixavam-na ficar assim, anónima.
Mas o que ninguém sabia era que Maria, este era o seu verdadeiro nome de Bicho de Palha, era filha de um rico comerciante que se casara novamente com uma viúva que também tinha uma filha da mesma idade da enteada. E, para fugir dos maus-tratos da madrasta, a jovem enteada resolveu fugir de casa. Antes, porém, seguindo o conselho de uma velhinha de feições muito bondosas e serenas, com quem se encontrava sempre que ia lavar roupas no rio, ela fez uma capa de palha trançada, cobriu-se com ela, apanhou umas poucas roupas, fez uma trouxa com essas, pegou a varinha de condão que a bondosa senhora lhe deu, para ser usada em caso de muita necessidade, e foi-se para o outro lado da cidade, onde estava o palácio do príncipe. Como lá precisavam de alguém para limpar os aposentos e banheiros dos criados, foi logo empregada. Lá, como já se informou, ganhou o apelido de “ Bicho de Palha”.
Um dia, o príncipe, que já estava em idade de casar-se, resolveu, de comum acordo com a rainha sua mãe, dar, durante três noites seguidas, um grande baile. Na última noite, escolheria, entre as jovens presentes, sua futura esposa. Assim sendo, todas as jovens do reino, sem distinção de classe social, foram convidadas.
A notícia agitou todos os moradores das redondezas, principalmente as jovens casadoiras.
Não foi diferente com as que trabalhavam no palácio do príncipe. Apenas Bicho de Palha mantinha-se quieta e indiferente no seu canto.
O dia do grande baile chegou, com muita movimentação e expectativa por parte de todos. As outras criadas, bem antes do pôr-do-sol, já se haviam retirado para seus aposentos para se preparar para a festa. Somente Bicho de Palha ficou disponível para servir ao príncipe. Ele lhe pediu que lhe trouxesse uma bacia com água, a fim de banhar-se e vestir-se para o baile.
Mal o jovem saiu, Bicho de Palha pegou a varinha de condão que a bondosa velhinha lhe dera, quando saiu da casa do pai, e, comandando-a como a senhora lhe instruíra, pediu-lhe que lhe desse um vestido cor do campo com todas as suas flores. Bem vestida e calçada, foi ao baile em uma vistosa carruagem. Sabia que o encantamento terminaria à meia-noite em ponto. Portanto, não poderia atrasar-se para retornar aos seus aposentos.
O príncipe, mal a viu, apaixonou-se, pois não havia moça mais bonita e mais bem vestida que ela. Quando ele lhe perguntou onde morava, ela lhe respondeu: “Moro na Rua das Bacias”.
E assim foram as outras duas noites restantes: na segunda, ao preparar-se para a festa, o príncipe pediu a Bicho de Palha que lhe levasse uma toalha, e, na terceira e última noite, um pente. E ela compareceu aos bailes, cada noite com um vestido diferente. E a cada uma dessas, o príncipe lhe perguntava novamente onde morava. E ela lhe respondia: “Moro na Rua das Toalhas” (segunda noite do baile) e “Moro na Rua dos Pentes” (terceira noite).
Na terceira e última noite, atrasou-se alguns segundos para sair da festa, e, na pressa, perdeu um dos sapatinhos de cristal. Um dos criados do príncipe o achou e o levou à Sua Alteza, que imediatamente ordenou que procurassem a misteriosa dona do sapatinho por todo a reino e região.
Finalmente, Bicho de Palha foi encontrada exactamente no palácio do príncipe. Sua identidade foi revelada, e ela se casou com o seu amado. E a varinha de condão, cumprida sua missão, voou para o Céu, para a bondosa velhinha de feições meiga, que era Nossa Senhora, a madrinha e protectora de Maria.
Tatiana Filipa Nascimento Gomes, 8ºE
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