quarta-feira, 11 de março de 2009

Cinderela, a Gata Borralheira


Cinderela, a Gata Borralheira




Havia quatro irmãs que viviam numa pequena casa. As três mais velhas usavam vestidos de seda e tinham rendas em todas as saias. A mais moça, entretanto, andava esfarrapada e fazia todo o serviço da casa. Era, por isso, chamada Cinderela, a Gata Borralheira.
A mais velha era alta e magra, tinha nariz comprido e queixo pontudo. A segunda era baixa e gorda, tinha nariz chato e era vesga. A terceira era coxa e curvada para a frente. Além disso, era linguaruda. Cinderela, com todos os remendos, era bonita e delicada. Tinha cabelos dourados e olhos azuis. A pele era macia e as faces estavam sempre coradas.
Certo dia, um arauto do rei apareceu na cidade, empunhando uma trombeta e anunciando:
“- Atenção, atenção! Daqui a quinze dias, Sua Alteza Real, o Príncipe, completará vinte e um anos. Sua majestade, o Rei, dará um grande baile para o qual estão convidadas todas as moças da cidade.”
A notícia pôs a cidade em alvoroço. As modistas não tiveram mais descanso. Não ficou uma só peça de fita ou de renda na cidade. Só os tecidos de algodão sobraram nas lojas. Tafetás, cetins, brocados e galões dourados foram vendidos no primeiro dia. Costureiras e alfaiates costuravam até as agulhas furarem os dedais. Os sapateiros nem podiam mais dormir. Os cabeleireiros cortavam, frisavam e penteavam noite e dia.
- Usarei um vestido solferino, disse a irmã mais velha.
- Eu irei de verde, informou a segunda.
- Meu vestido será amarelo, continuou a terceira.
- Irmãs, suplicou Cinderela, vocês têm tantos vestidos! Se me emprestassem um, eu poderia ir ao baile.
- Você ir ao baile? Onde já se viu uma coisa dessas? Disse a mais velha.
- Uma Gata Borralheira no palácio? Era só o que faltava! Caçoou a segunda.
- Além de tudo, você é muito criança, concluiu a terceira.
Na noite do baile, as três irmãs apresentaram-se ao palácio com vestidos caros, leques de gaze e plumas na cabeça. Depois que elas saíram, Cinderela sentou-se à beira do fogão, com o seu vestido remendado. As lágrimas corriam-lhe pelas faces. De repente ouviu um ruído semelhante a um bater de asas e uma sombra escura passou a seu lado. Olhou, assustada. À sua frente apareceu uma mulher de preto, segurando uma varinha. Usava uma capa larga e um chapéu alto, como os palhaços.
- Por que está chorando? Perguntou a mulher.
- Quem e a senhora? Indagou a menina.
- Espere e logo saberá, respondeu a mulher.
Por baixo da aba do chapéu, seus olhos brilhavam como estrelas.
- Diga-me, porque está chorando? Insistiu ela.
- Minhas irmãs foram ao baile do Rei e eu fiquei aqui sozinha. Só tenho este vestido, velho e remendado.
E, pondo as mãos no rosto, começou a soluçar.
- Se continuar aí sentada, chorando, não poderá mesmo ir ao baile. Levante-se, e faça tudo o que eu mandar.
- Há ratos nas ratoeiras? Perguntou a senhora.
Cinderela, muito admirada com a pergunta, respondeu:
- Há três no celeiro, três no sótão e dois candongas na despensa.
- Apanhe as ratoeiras e leve-as para o jardim. Traga-me também a abóbora maior que encontrar na horta.
Cinderela fez exactamente o que ela mandou. Repentinamente, a senhora tocou nas ratoeiras e na abóbora com a varinha mágica e eis que elas se transformaram. Os ratos viraram seis soberbos cavalos pretos. As candongas viraram dois cocheiros elegantemente vestidos e a abóbora transformou-se numa linda carruagem dourada. Depois, tocou o vestido de Cinderela com a varinha, e imediatamente desapareceu aquele pobre vestidinho remendado, sendo substituído por um riquíssimo vestido de baile. Em seus pés apareceram lindos sapatinhos de cristais.
- Cinderela, disse a senhora. Vá e divirta-se, mas, preste atenção: quando o relógio der meia-noite, volte para casa sem demora. Se não o fizer, os cavalos voltarão a ser ratos, os cocheiros, candongas, e a carruagem será novamente uma abóbora. Quanto ao seu lindo vestido, minha querida, voltará a ter remendos. Preste atenção ao relógio. Não se esqueça!!!
- Não me esquecerei, prometeu Cinderela, mas, quem é a senhora?
- Sou sua fada madrinha. Lembre-se bem de tudo o que lhe disse.
- Lembrar-me-ei, prometeu a mocinha.
Antes que Cinderela pudesse lhe agradecer, a senhora desapareceu, como por encanto. Quando a carruagem chegou ao palácio, os criados ficaram tão admirados, que os botões saltaram de seus coletes apertados. Com os olhos arregalados, acompanhavam a linda moça, que saltou da carruagem.
Quando ela entrou no salão, o príncipe, que dançava com uma duquesa, foi imediatamente ao seu encontro e não dançou com mais ninguém. A música era tão agradável e o príncipe tão encantador que, quando o relógio deu a primeira badalada da meia-noite, Cinderela não se apercebeu disso. Ao bater a segunda, porém, ela teve a impressão de ver a fada num canto do salão. Lembrando-se então, de tudo, deu um grito abafado e saiu correndo. O príncipe, com grande espanto, viu-se sozinho no meio do salão. Procurou em vão pela linda princesa com quem havia dançado.
Cinderela fugiu pelos corredores do palácio e precipitou correndo pelas escadarias que levavam aos jardins, justamente quando o relógio dava a última pancada da meia-noite. O príncipe veio correndo atrás dela, mas não conseguiu alcançá-la. No fim das escadarias, encontrou apenas uma pobre moça, chorando na escuridão. Seis ratos pretos iam correndo à procura de queijo e dois candongas os seguiam. Uma abóbora grande rolava pela rampa das carruagens.
O príncipe olhou bem para todos os lados, mas não conseguiu ver a princesa. Muito triste, começou a subir os degraus. De repente, seus olhos avistaram alguma coisa que brilhava como uma jóia. Ajoelhou-se e apanhou um sapatinho de cristal, tão pequeno que cabia na palma da sua mão. Guardou-o no bolso, com muito carinho, na esperança de, por meio dele, encontrar a princesa. O rapaz ficou tão desolado que não podia dormir nem comer. O Rei enviou mensageiros para todos os lados do reino, à procura de uma moça, cujo pé fosse tão pequenino que coubesse naquele sapatinho.
No dia seguinte, Cinderela, novamente maltrapilha, pôs-se a fazer seu serviço. Seu pensamento, entretanto estava no príncipe. Suas irmãs estavam mais azedas do que nunca, e não falavam noutra coisa, senão na estranha princesa que estava no baile.
- Onde já se viu coisa igual? O príncipe não dançou connosco. O tempo todo só deu atenção àquela estranha princesa. Dizem que ela e filha o imperador das Índias, disse uma das moças.
- Seu vestido era tecido com fio de diamante, informou a segunda.
- Filha do imperador das índias? Perguntou Cinderela, curiosa.
- Trate de esfregar o chão. Que tem a ver você com a vida do príncipe? Vociferou a mais velha.
Durante muitos dias, os emissários do Rei viajaram pelo país. Visitaram cidades grandes e pequenas, aldeias e povoados. Em todas elas as moças se alvoraçaram, ansiosas por casar com o príncipe.
Finalmente, os emissários chegaram ao pequeno quarteirão onde Cinderela vivia com as irmãs. Suas trombetas douradas brilhavam ao sol, anunciando: “Aquela que calçar o sapatinho, será a esposa do príncipe”. Moças de todos os tipos apresentavam-se. Porém o sapatinho não servia a nenhuma. Afinal, chegaram à casa da Cinderela.
A irmã mais velha foi a primeira a aparecer, mas apenas o seu dedo grande coube no sapato. A segunda experimentou, mas o calcanhar ficou do lado de fora. Veio a terceira, mas só a metade do pé entrou.
- Deixem-me experimentar, pediu Cinderela.
- Você uma princesa! Zombaram as irmãs. Rainha do borralho!!! Isso sim, caçoaram elas. Enquanto elas riam, o chefe dos mensageiros ajoelhou-se à frente de Cinderela e calcou-lhe o sapatinho que coube perfeitamente no seu pé.
- A senhora será a esposa do príncipe. Venha connosco, Sua Alteza.
Cinderela acompanhou-os ao palácio. Havia uma multidão na calçada para vê-la. Os homens estavam apenas curiosos, mas as moças choravam de inveja.
O Príncipe, quando a viu, não reparou nos remendos de seu vestido, nem nas manchas de cinza que trazia nas faces. Viu apenas aquele rosto tão querido que ele ansiava tanto rever. Por ordem do Rei, foi anunciado que o casamento se realizaria no dia seguinte. A festa durou dez dias e dez noites. As irmãs de Cinderela dançaram só com os empregados da estrebaria. Cinderela e o príncipe formaram o casal mais feliz do mundo. E o reino povoou-se de amor e alegria pela felicidade dos dois.

Adaptação de Katharine Gibson




Raquel Mónica Jardim, 8º E

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